Des. João Menezes, um simpático amigo

15 de fevereiro de 2023
Autor: Juiz Elmar Carvalho

Após muitos anos de serviço público, ingressei na magistratura em 20 de dezembro de 1997. Em julho de 1998, vim a conhecer o Des. João Menezes mais de perto. Estava eu à porta de uma das casas da Colônia de Férias, quando ele ia passando em direção à casa em que estava. Me cumprimentou, e entabulamos rápida conversa. Diria que “nossos santos bateram”, como se costuma dizer. De imediato, notei que ele era uma pessoa cordial, afável e muito simpática.

Nas oportunidades subsequentes em que nos encontrávamos sempre lhe apreciava a mesma cordialidade e simpatia. Ficou sabendo que eu era escritor e poeta, e parecia ter uma genuína alegria com as minhas eventuais conquistas nessa seara. Diria mesmo que ele parecia ter certo orgulho disso. Fiquei feliz quando ele tomou posse como presidente do Tribunal de Justiça do Piauí, cargo que exerceu de 2002 até o dia 07 de novembro de 2003, quando se aposentou, no dia em que completou 70 anos de vida.

Creio que no final de 2010, quando eu já havia completado mais de 35 anos de serviço público, fui ao gabinete do Des. Edvaldo Moura, então presidente do TJPI, para resolver assunto relacionado com meu pedido de “abono permanência”; ali encontrei o Des. João Menezes, que me acolheu com a cordialidade e simpatia de sempre. Nesse encontro, aconteceu um episódio jocoso, diria mesmo anedótico, de que eu e ele fomos protagonistas. Para não repetir o que já escrevi alhures, transcrevo o que consta em meu e-book Diário Incontínuo, disponível no site da Amazon:

“Fui ao Tribunal de Justiça, na sexta-feira, tratar de vários assuntos, um dos quais de meu interesse funcional. Ao entrar no gabinete da presidência, além do presidente Edvaldo Moura, encontrei o des. João Menezes da Silva, que também presidiu a corte de Justiça do Piauí. Trata-se de cidadão afável, educado, e que sempre me foi muito simpático, desde o meu início na magistratura.

Disse-lhe que estava requerendo meu abono previdenciário, em virtude de minha permanência na atividade. Há vários meses completei tempo de serviço e idade para aposentar-me, uma vez que comecei a trabalhar aos dezenove anos, quando ingressei na ECT e posteriormente na extinta SUNAB, sem sofrer a interrupção de um dia sequer, em minha prestação laboral.

O des. João Menezes, a sorrir com gosto, ao saber de minha pretensão, e sabendo que também me dedico às letras e à cultura, indagou-me por que eu desejava a gratificação, uma vez que eu, por ser poeta, deveria viver de brisa e de coisas etéreas e espirituais, e não de bens financeiros e econômicos. Respondi-lhe que o poeta poderia dispensar as coisas materiais, mas que a sua família precisava de alimentos e outros bens concretos, inclusive dinheiro. Por fim, expliquei ao bom magistrado João Menezes, que era o juiz que sustentava o poeta, encarnado na mesma pessoa física, que sou eu mesmo.

Dizem que o intelectual Eduardo Prado, ao contemplar verdejante campo, teria perguntado a sua mulher Alice, em criativo jogo de palavras: “De que ali se vive?” Conta a lenda, que ela, imediatamente, teria respondido com outro trocadilho em torno do nome do marido: “É do ar do prado”. Não podendo eu, ao contrário de Alice, mesmo cultivando as coisas espirituais, viver apenas de brisa, espero seja o meu abono deferido.”

Em 20 de dezembro de 2014 me aposentei, e no ano seguinte publiquei o meu livro Confissões de um juiz, no qual, de forma resumida, narrei o caso anedótico acima. Dei um exemplar ao caro amigo Des. Menezes, advertindo-o de que nele se encontrava o nosso episódio jocoso. Algumas vezes, recordávamos esse fato, e ele ria com muito gosto, e comentava alguma coisa.

Algumas vezes, ele me contou fatos de sua vida de juiz. Por essas histórias pude perceber que ele tinha uma inteligência emocional e uma sabedoria de vida para resolver as questões, que lhe eram submetidas, sem necessidade de firulas da hermenêutica, de sibilinas doutrinas ou de altas teses doutrinárias. Resolvia esses imbróglios com o seu bom-senso e alto senso de justiça e de querer, realmente, fazer Justiça.

Agora, que meus pais se foram, que muitos de meus mais estimados amigos já estão partindo para o “outro lado do mistério”, começo a achar mais verde e mais bonita a outra margem do rio, e já começo a preparar o meu óbolo para o velho barqueiro Caronte.

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